segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

Lista


Queria fazer uma lista.
Uma lista não feita das melhores canções, das melhores cenas ou dos melhores filmes do ano que dobra a esquina pra nunca mais voltar. Queria uma lista que evocasse a batalha de vive-lo, mas sem dar a esta batalha o amargo deste tipo de narrativa.
Queria uma lista feita do aprendido, sentido. Uma lista feita das vezes em que o medo se tornou invencível, mas também de como este medo foi sendo substituído por crença.
Uma lista feita das vezes em que rolaram as águas dos olhos mas ao mesmo tempo uma lista feita daquilo que iluminou os olhos nus diante do vivido.
Talvez a lista não seja o formato ideal. Talvez sua ordem subseqüente, linear e cronológica não seja o melhor suporte para falar das passagens e paragens do tempo.
Mas agora que vejo encerrar-se o ano do choro, da casca arrancada e reinventada, descoberta e justaposta a tantas outras em um eterno infindo de não se chegar a lugar único algum, me pego na necessidade de uma lista.
Uma lista que não consiste no que foi e sim, no que será
Uma lista formada de tudo que vem depois do medo, da chuva, do pesadelo, da tempestade.
Uma lista que reafirme o quanto a felicidade precisa as vezes ser enxaguada pra ganhar cores e motivos novos.
Uma lista de amores que nascerão e ensinarão que este sentir apertado, este olhar luminoso e esta sensação sôfrega de imaginar o amanhã ao lado daquele mundo que é o ser amado, que tudo isto, é motor da vida.
Uma lista que me faça ter ainda mais forte a crença de que o novo ano é nova possibilidade que estréia com a união de milhares de pensamentos ao redor do planeta pensando: Agora é pra valer...
Uma rede formada por tanta vontade de mudança, capaz de explodir em uníssono de querer mais é ser feliz
De tanto querer uma lista eu a vi surgir e desaparecer no corpo desta escrita.
De tanto quere-la eu me vejo repetindo o fluxo da vida que escapa, avança, sobe, desce e cria seu próprio ritmo, sentido e direção...

Feliz 2008 e que possamos encher nossa lista com a força absolutamente inesgotável dos nossos mais ardorosos desejos...

Um grande abraço,
Igor Simões

domingo, 16 de dezembro de 2007

Circulos ciclos rodas


Ciclos.
Acho que ainda não é um escrito de fechamento...
Acho que não...
Mas é de ciclo...
Circular, redondo, mutante, novo convalescente.
Me acho longe daqui porque a roda viva rodou em um instante.
Me perco, me doo, me sorrio, me celebro.
Me estranho, me encontro, me perco, me reeencontros maravilhosos.
No redondo do mundo encontro pessoas, sensações e maneiras novas de lidar.
Outra energia, nova, refeita, reconectada.
Uma energia em que me descubro.
Estou próximo de fechar o ciclo inicial do reiki encontrado por acaso. Dias sem carne e bebida. Dias de encontrar a possibilidade de encarar desafios. Outro lugar novo, outra reinvenção.
Mudando em giros no próprio eixo...Não para encontrar o ponto de zero mas para aprender a lidar com o eterno novo, com a chegada e a saída do desconhecido...
Em não esquecer que tudo muda, tudo gira como a saia da bailarina que dança do meu lado na festa que crio paa mim e para os meus.
Fechamento então não se aplica a este texto, movimento talvez sim.Mas se aplica sabendo que se esgota. Sabendo que o sentido se esvai e tonteia aqueles que acreditam no unico, essencial, uno.
Não me prendem e tonteio os os outros assim como a mim. Tonteio porque giro e os convido a rodar. Eu não tenho paradeiro, eu tenho a roda gigante.

quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Porque as escritas de mim também podem ser de outros


Toda vez que me retiro, me ausento, me hiberno e toda vez que me retorno,animo, ressuscito... Eu penso nessa música.Como carro chefe, anúncio de chegada...
Voltei:











PIERROT
(Marina Lima)

Sim, eu resolvi me ausentar
Para ocultar a minha dor
Fugi, menti
Talvez por pudor

Desde então tanta coisa aconteceu
Que eu parei prá melhor pensar:
Voltei prá te dizer o quanto eu senti(...)

E a vida segue, sempre nesse vai e vem
Que não passa das ondas do amor
Gira, roda
Como um pierrot

Eis que um dia aquela bela casa cai
E não há mais como negar:
Voltei prá te dizer que aqui no meu Brasil
Outra flor não há

Aqui: cada cidade é uma ilha, sem laços, traços, sem trilha
E o medo a nos rodear
Então: bem vindos à minha terra feita de homens em guerra
E outros loucos pra amar

E tem sido assim, desde que o mundo é mundo
Os homens temem a paixão
Ela fere, ela mata
Tal qual um dragão

Enfrentar ainda causa tanto medo
Mas fugir é bem pior:
Voltei prá te dizer que nessa guerra
Não há vencedor

Aqui: cada cidade é um port, disse o poeta prum broto
Que não queria arriscar
Vem, bem vindo a minha terra, feita de homens em guerra
E um outro louco prá amar

terça-feira, 13 de novembro de 2007

A excêntrica família de Antônia: Vida, Morte e Felicidade para Mudar o Mundo



Está aqui. No meu olho vermelho que insistiu ficar acordado para o reencontro.
Anos depois, muitos anos depois.
Antônia, sua excentrica família. O tempo, os ciclos, o ser feliz.
Intervir no mundo pela felicidade.Entender que a vida há de ser vivida. Seja por exigência da sua força, seja pela descoberta das suas felicidades sentidas.
Tomado ainda pelas águas de mim que invadiram meu rosto e foram se juntar à felicidade, admiração, melancolia e contemplação que estiveram presentes durante este tempo de rever, lembro.
No meu primeiro encontro com esta obra, já tinha sentido o remexer que surge quando se está diante das coisas que são de compreenssão universal. Anos passaram, meus ciclos surgiram, minhas vidas e mortes particulares se sobrepuseram e aqui estou. O filme termina e preciso encontrar a escrita. Preciso registrar o que fica, mexe.
De tudo, de todas as cenas, falas , imagens, fotografia, fica a lição que foi feita palavra, representada,no belo escrito-sinopse, que ao descrever antônia, seu mundo e os personagens dele, chama o espectador à felicidade. Uma mudança e uma intervenção no mundo que se dá para as delicadezas de ser feliz, de sorrir e de compreender os apelos de tudo que é vida, até mesmo quando esta encontra seu ponto-morte.Afinal nada se conclui e como diria Antônia: "Nada morre para sempre, algo sempre fica de onde outra coisa nasce(...) Porque a vida quer viver e esta é a única dança que temos"

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Tempo Sentido


Escrever sobre o tempo é tentar entende-lo, perdendo-o. Os sentidos são tantos e os tempos também.
O tempo anda me faltando, e quando mais preciso dele.O tempo anda me deixando com insônia, anda me deixando escapar coisas, anda não me permitindo tudo. Tempo para o ator, para o produtor, para o mestrando, para o que projeta amanhãs.Tempos que não se separam, mas que não cabem no tempo do dia.
Em um tempo outro, aquele das coisas sentidas, ando no tempo da descoberta.
Descobrir a cena, sem estar nela mas imaginado-a, orientando-a, trazendo todo o pouco que sei no meu tempo de ator para a zona do compartilhamento.Orientando corpos, olhares, luzes, concebendo visualidades onde outros atores se deixam ver.
Ficar na coxia também é algo que chega em um tempo novo pra mim.E talvez já fosse tempo.
Produzir tanto em pouco tempo tem sido um desafio. Antes, isso me parecia sem dificuldades. Talvez no tempo em que o sentimento de invencibilidade e total possibilidade de fazer tudo, ainda me habitava. Não agora, porque também ando em um tempo de descoberta de limites,eu acho. Já que foi embora o tempo das certezas. Será que cheguei em um tempo de idade adulta? Não sei. Pois que o diga o tempo!

domingo, 28 de outubro de 2007

Talvez no tempo da delicadeza


Silêncio.











Guardar, cultivar, deixar crescer e fortificar.
Ser maduro para permitir a maturação de uma sensação nova.
Um olho que brilha, uma mente que se ilumina.Um encanto redescoberto.
Ainda que aqui. Ainda que silêncio e germe.
Ainda assim.
Quero experimentar o silêncio e a observação.
Usar o aprendido.
Tem um cheiro novo, de casca nova, tudo isso...
Outro olhar, outro tempo, outra fala, outra entonação...
Estou gostando assim.
Tem algo novo morando em mim.
Algo vindo de mim, de outro, do meu olhar sobre o outro.
Andaram me falando e me ensinando outro tempo.
Não achei que fosse encontrar a fala do silêncio, não achei que fosse descobrir uma diversão nisso.
Descobri.
Talvez eu esteja vivendo o tempo da minha palavra preferida: Delicadeza.
Talvez eu esteja plenamente vivendo o tempo da delicadeza e vou por aí seguindo como encantado.



Por agora basta!








Silêncio

domingo, 21 de outubro de 2007

Três Tempos pra este tempo longe daqui...


Tempo I

Pois então,
Andei meio afastado daqui deste espaço de escrita por um motivo simples, tácito, e claramente compreensível, suponho: Eu estava vivendo...
Quando a vida para de agir só dentro, e respinga no mundo, é hora de pinta-la de novo...
Tenho feito isso...iluminado meu mundo sorrindo mais pra ele...
Meu fim-de-semana-descanso foi todo assim...
Fim de Semana de reencontros: As minhas amigas de infância e todos os lugares que elas me trazem sempre... Estar com elas é ver o tempo agindo e perceber como ele pode ser generoso, como pode nos fazer melhor e nos ensinar estratégias para driblar a distância nos movimentos do vivido, mantendo sempre firme o cordão este que nos enlaça, eu e elas. Juntos somos um riso quase infantil a encontrar velhas lembranças e criar novas. Novos feitos e novas memórias que nos acendem no compartilhamento de nossas presenças.Elas me trazem sempre tão de volta pra casa...Precisava deste encontro neste ciclo de escutas íntimas em que estou...
No compromisso social encontramos uma brecha para ficarmos juntos cultivando este amor-amizade que atravessa nossas vidas e que compõe grande parte das nossas experiências... Nos olhamos e vimos corpos que mudaram, relações que nasceram e até novos nomes-função: Mãe, Esposa, profissional, mestre...Estas coisas que fomos encontrando na vida, algumas por acaso, outra por ação de nossas vontades mais fortes...E ficamos lá...sendo a importância que somos os quatro, um para o outro...Enquanto a vida andava em nós, fizemos o tempo parar para reacendermos os nossos olhos no mundo...

Tempo II
Dia outro: passeios e cheiros, fragrâncias e incursão no fascinante, perigoso, divertido e doente mundo do consumo. Aqui do lado, em um país com impostos baixos para uma maioria de habitantes de um país de impostos altos.
Mas não é aqui o espaço onde vou discursar sobre fronteiras e territórios para além daqueles que se encontram em mapas...
O fato é que foi o sábado inteiro a "vitrinar", experimentar, cheirar...em uma feira de vaidades que vem necessária no reencontro das minhas belezas, vaidades e sentimentos que olhares cristãos não elevariam a categoria da nobreza...
Na volta, corpo cansado se encheu de cheiros novos e foi de novo ao encontro-reencontro do eu que reside dentro delas...o igor que mora na josi, na elaine, na sand...
Alta noite já se ia, Ninguém na estrada andava, quando voltei pra casa.

Tempo III
O domingo veio no encontro solar com pessoas sol que andam, escrevem e atuam na minha vida...Pessoas novas , algumas outras que já conhecem todos os passos da minha estrada....
Este domingo...Domingo...domingo...
Domingo de reticências mesmo...Boas reticências...
Encontrar para ser feliz...As pessoas que escreveram/inscreveram o fim de semana , junto comigo são renatas, lúcios , zicas e fafás que me povoam sempre...eles me afastam daqui por que me fazem reencontrar a vida, me fazem reencontrar o gosto de andar pelas ruas, o gosto de ver as gentes...E encontrando as ruas, as gentes e a vida posso voltar aqui e reencontrar a escrita...

terça-feira, 16 de outubro de 2007

Celebração, rito...



Às vezes a gente pode ser tão maravilhosamente selvagem...
Dançar, beber líquidos que alteram o estado de consciência, encontrar outros da tribo e comungar...
Bom que ainda se pode ser assim...
No último sábado, eu e uma grande amiga, nos reunimos para comemorar nosso aniversário e acabamos por promover um destes momentos de convívio divinamente selvagem.
Corpos dançavam, mãos se erguiam e todos juntos movimentavam-se rumo ao êxtase feliz de se estar junto, de se compartilhar, de estar entre os seus, voltado para o que é bom, feliz e leve...
Ao som de uma negra-mulher-mágica todos dançaram e foram até surgir o sol em busca de seu regozijo com o outro e consigo. A correria, a modernidade, o sujeito,ficaram do lado de fora da porta de um minifúndio totalmente primevo...Sol em Vênus dá nisso...

Então...Fim de inferno astral...


VINHO GUARDADO
(Danilo Caymmi – Paulinho Tapajós)

Abre a tranca da janela por favor
Que o pior da tempestade já passou
Tem um sol se espreguiçando no jardim
Gritando assim
Abre a porta pra mim

Desfaz a ilusão
Não há mais razão
Não há mais porque
Querer se esconder da vida
Fecha os olhos e desperta por favor
Que o pior da tempestade já passou
Abandona o travesseiro e o cobertor
Que um novo amor
Pode estar pra chegar
Desfaz a ilusão
Não há mais razão
Não há mais porque
Querer se esconder da vida

sábado, 13 de outubro de 2007

Mais Autran na voz de outra atriz


Resolvi tomar a liberdade de postar o comentário da minha amiga, a atriz Renata Wotter, sobre as perdas e o sentimento quanto ao encantamento do mestre do criar mundos e homens. Renata, me alio a ti nas percepções de um mestre de todos que pisam no palco:


Renata disse...
Igor querido, antes de tudo, Feliz Aniversário meu grande amigo!!!
Que triste notícia recebemos hj à tarde. É inacreditável que este grande e talentoso homem um dia nos deixaria... Pra mim e pra grande maioria dos brasileiros Paulo Autran era um ícone do teatro... Um ator único, exemplo de pessoa e profissional... Tive o prazer de ve-lo atuando no monólogo Quadrante no maravilhoso Teatro São Pedro... Eu nem acreditei qdo o vi entrando em cena... Naquele momento não havia mais nada, nem mesmo o resto da platéia, eu só via aquele lindo velhinho no palco... ele era enorme, um verdadeiro rei! Nunca gostei de ir a teatro sozinha, mas naquele dia fui, não poderia deixar que chegasse o dia de hj sem jamais tê-lo visto. Lembro exatamente das sensações que eu tive... Chegava a perder o ar... Tomada pela emoção as lágrimas rolaram, o coração encheu-se de alegria e as mãos suavam frio... Qdo o espetáculo chegou ao fim, lembro de ter sido a última pessoa me levantar pra ir embora... Eu não queria sair de lá, não queria deixar aquele momento, não queria que aquilo tudo acabasse... Mas enfim, era apenas uma peça de teatro... Resta saber, se um da sentirei tudo isso novamente... Paulo Autran é um exemplo a ser seguido, com certeza deixará aos artistas grandes ensinamentos e uma trajetória brilhante...
Mas eu sei tb que o teatro brasileiro nunca mais será o mesmo!

Igor, aproveitei o espaço pro desabafo, tem muito mais o q ser falado, mas vou me deter...
Beijos!!!

sexta-feira, 12 de outubro de 2007

O sublime encantou-se


Achei que hoje estaria por aqui escrevendo algo sobre meu aniversário, encontros e celebrações.
Mas a tarde ofereceu contornos outros. A tarde levou Autran.
Autran: Homem criador de homens. Homem que gerou beleza em movimentos, gestos e falas.Dono de milhares de almas.
Seu corpo não é só seu corpo. Seu corpo, hoje morto, foi usina. Nele, registros da criação de uma arte que por seu fazer, nasce e morre no corpo dos seus artistas.Uma arte que hoje morre consideravelmente, nas cortinas fechadas dele...

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

A madrugada dos 26


Aqui, sentado com olhos vermelhos, assisto a última madrugada dos meus 26...
Não. Já não estou tanto para mortes. Acredito no novo que vem chegando na minha porta.
Fico aqui e não sei se faço um balanço, uma revisão, esqueço para sempre, agradeço a partida ou festejo os ocorridos.
Eu não sei. Sei apenas que não chego aos 27 como cheguei aos 26. E embora pareça obviedade, posto que, a mudança se dá em contínuo com o tempo, penso que este, sentado aqui, é mais diferente do que todos os outros que me chegaram em outras novas idades.
Porque a vida me pegou de jeito. Ela me sacudiu, mexeu com as certezas e abalou convicçoes.
Potências antigas morreram e agora vivo um tempo de cultivo de novas, cuja presença já percebo em um lispectoriano "lá atrás do pensamento".
Agora que ao amanhecer viverei meu ultimo dia de 26, penso que a revolução veio forte e me levou até as palavras com as quais eu presentificava meu mundo. Mudaram minhas palavras e minhas coisas.Me joguei de novo ao "Cântigo Negro" do não sei por onde vou, não sei pra onde vou .Mais que nunca, agora, sei por onde não irei. Sei por agora. A incostância dos fatos não me permite mais, afirmações absolutas.
Este espaço de escrita e compartilhamento me surge em um momento em que tento entender os acontecimentos. E como não pensar na Clara da "casa dos espíritos" quando diz que escreve para "entender a ordem dos fatos".Pois que me ponho ao lado dela e vou além....Escrevo para me presentificar , pra dar nome , mesmo que remoto, ao meu indizível e inominável. Escrevo para tornar o intangível mais afeito, e sem paradoxos aqui, ao toque.
Escrevo para entender o eco dos meus movimentos de vida.
Da vida que encerra hoje.A vida dos meus 26 .

Madrugada de quarta para quinta, 10 para 11 de outubro de 2007, 03:18 min.

terça-feira, 9 de outubro de 2007

Sobre o trocar passos com a solidão




Eu tenho andado tão sozinho ultimamente...Mas não daquele sozinho triste e nostálgico.
Eu tenho andado sozinho daquele jeito de rever tudo...
Sozinho não como quem não tem amigos. Os tenho! São maravilhosos... Andado sozinho como quem sabe que precisa se ouvir, como quem precisa se rastrear
Como quem precisa estar sozinho.Claro que às vezes essa solidão se faz tão absoluta, tão funda, que dói o silêncio barulhento dos meus pensamentos...
Mas estar consigo é preciso...Organizar o vivido que não para pra ser organizado..
O estar consigo não tem que ser cinza embora não seja arco-íris....


Nisso me vem logo as palavras da viviane mosé:

Prosa Patética

Nunca fui de ter inveja, mas de uns tempos pra cá tenho tido.
As mãos dadas dos amantes tem me tirado o sono.
Ontem, desejei com toda força ser a moça do supermercado.
Aquela que fala do namorado com tanta ternura.
Mesmo das brigas ando tendo inveja.
Meu vizinho gritando com a mulher, na casa cheia de crianças,
sempre querendo, querendo.
Me disseram que solidão é sina e é pra sempre.
Confesso que gosto do espaço que é ser sozinho.
Essa extensão, largura, páramo, planura, planície, região.
No entanto, a soma das horas acorda sempre a lembrança
do hálito quente do outro. A voz, o viço.
Hoje andei como louca, quis gritar com a solidão,
expulsar de mim essa Nossa senhora ciumenta.
Madona sedenta de versos. Mas tive medo.
Medo de que ao sair levasse a imensidão onde me deito.

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

Segunda-Cinza Feira




A segunda amanheceu cinza, sem graça, com cara de preguiça...Mas, como quero beleza, fui procurar algo que fosse cinza e bonito...Lembrei da foto feita pela minha amiga-alento Ângela Farina, no Café aquarius, um dos pontos mais tradicionais e uma das faunas mais interessantes da cidade de Pelotas, no extremo sul do frio Brasil.
Só pra constar , é dela também foto no espelho do fondo, que abre meu blog.
Endereço do flickr dela: http://www.flickr.com/photos/angelafarina70/

domingo, 7 de outubro de 2007

sábado, 6 de outubro de 2007

Drummond querendo eco em mim....


OS OMBROS SUPORTAM O MUNDO
Carlos Drummond de Andrade

Chega um tempo em que não se diz mais: meu
Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.

Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.

Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teus ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos
edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.
A última noite de uma vida

Sim. A última. O fim de um ciclo.De um movimento. Não a morte física. Mas a morte, sim. A morte de uma forma de vida. A morte de uma vida sonhada. Alcançada, terminada.
Novos sonhos terão de vir. Espero que venham. Mas deixo o tempo andar.
Última noite nesta rua, nº, cep.
Última vez que vejo a noite tomar meu cenário, este meu cenário.
Cenário de tanto. Tantas cenas. Dores, alegrias, porradas, amores, abraços, beijos, porres, filmes, amigos, inimigos.
Parece piegas, talvez até seja.
A última noite envolve meu antigo cenário e já é madrugada, quase manhã, a última manhã.
Eu, ator que sou, estranho. Achei que agora estaria tomado de lágrimas e olhando pra tudo através da água dos meus olhos,
Mas não. Estou duro, talvez valente, talvez assustado, talvez em choque, talvez firme. Eu não sei.
De qualquer forma, nesta noite se encerra o rumo do meu primeiro amor, do meu primeiro emprego, do meu primeiro grande gesto de vida adulta.
A saída da casa, talvez seja um símbolo. Estou começando, e sei disso, a sair da casa que habito de verdade, desta casa que habitei na vida que tinha. Vem vindo uma nova casa, de mais escuta e menos fala. A minha casa-limite, aquela que não me pode ser retirada. Aquela que aluguel nenhum pode pagar, aquela que ninguém me despeja, suporte dos meus afetos, dos meus sentimentos, das minhas crenças e vontades, também está em reforma.
Também vai mudar, também vai virar palco vazio para cenário novo. É necessário, é preciso. Eu preciso.
Vou, pra sonhar de novo. Pra desejar ardentemente, para potencializar o meu amanhã e ter um hoje nada menor do que eu sempre quis.
Não é a toa que volto a escrever. Eu preciso, é um ritual necessário. Hoje, aqui, nesta hora, agora.
Portanto este é um escrito de morte. Sim, de despedida. Porque coisas passaram. E eu disse “ que queria passar com elas e não deixar nada mais do que as cinzas de um cigarro e a marca de uma abraço no seu corpo nu”. Meu corpo está nu. Meu destino, meu amanhã estão nus. Preciso vesti-los de novo. Preciso sonhar com a roupa que vestirei amanhã. O cigarro aqui no meu dente, nos meus lábios junto com o café, substitui o vinho que queria estivesse bebendo. Mas não comprei. Esqueci. Acho que andei me esquecendo. Mas esquecer para lembrar me é tão familiar, me cheira a processo de criação. Nele estou. No processo de criação dos meus novos quereres.
Não sei se o rumo imediato, a casa aquela, da família e dos conflitos é o rumo certo. Talvez aquela casa esteja me chamando porque quer ser revista, resgatada, revisitada. Talvez seja um erro, talvez uma rota errada. Mas é o meu possível agora. E talvez sem saber seja o meu necessário.
Este apartamento há muito deixou de me dizer, de me abrigar, de me fazer feliz. Há muito deixou de ser festa.
Mas era meu, meu lugar, conquistado com aqueles outros desejos que me moveram, minha toca.
Vou ter que desejar para conquistar de novo. Acho que isso não é ruim.
Força de novo, tem que estar comigo, tem que ser comigo, tem que estar em mim.
A incerteza apavora, mas não deixa de ter o seu lado fascinante.
Talvez tudo pareça drama. Talvez seja. Mas o drama também compõe a vida.
Difícil terminar a escrita, porque ao termina-la tudo estará encerrado.
Não é o caminhão, os móveis ou a entrega da chave que vai encerrar esta vida. É o fim deste texto, é o fim deste escrito.
Ficarão lembranças, sim. Sensações. E olharei pra tudo isso como uma daquelas coroas de flores com aquelas frases que se escreve aos que se foram.
Olharei para este apartamento ao amanhecer e tudo estará vazio, tendo em mente frases como: “Aqui jaz uma vida que tive, um projeto concluído, encerrado, ido até o fim,vivido até o último segundo.”
Dormirei meu último sono nas poucas horas que me restam desta vida que tive. Tentarei e talvez a insônia, minha companheira de sempre, não permita.
Tenho que encerrar, terminar este texto. É preciso, abro um sorriso quase invisível, movendo quase internamente, e digo: Acabou. Acabou o texto, acabou essa vida e foi bem vivida.
Acho que vou terminar com a frase da personagem do filme que vi agora, o último desta vida aqui[1], onde uma personagem, uma senhora idosa que fez o que quis, da maneira que pôde e que conta sempre as histórias de uma vida vivida assim aconselha sua neta que anda vendo e descobrindo a vida:
“Você tem que arriscar, Jéssica. Eu entrei de cabeça...E Você sabe, eu tive uma vida maravilhosa”
Assim, acho que está bem.Mas antes digo que já comecei a mergulhar e a construir as histórias que quero contar quando estiver velho.FIM
[1] Um lugar na platéia.

A primeira escrita

Enfim, tenho um blog...
Relutei de maneiras várias em ter um...Sei lá..
Mas a vontade do compartilhamento foi maior.
A vontade de dividir, de ler e ser lido.
Escritas de mim
Escritas de mim não são apenas as palavras que brotam na ponta dos meus dedsos a indicar o mundo.
Escritas de mim são aquelas em que encontro eco.
Escritas de mim, podem se minhas, da Clarice, da Bethania, do Pessoa, da Perê.
Escritas de mim são aquelas em que eu seleciono, reúno, agrupo afetos e perceptos.
Escritas de mim aqui, são todas as que se enquadram nas minhas várias performances na vida, nos vários personagens que articulo no meu estar vivo.
Não sou único, não o quero, não me pretendo assim.
Posso ser circo e tragédia simultaneamente.
Posso ser isto e aquilo. Posso estar aqui e lá.
E as escritas que surgem aqui brotam destes movimentos em direções várias que eu vou compondo da maneira que posso, que me permito,dentro meu mundo possível.


A primeira escrita de mim vem pela voz de clarice.
Clarice me acompanha, me estranha , me confirma.
Aqui, ela dá o tom deste espaço de compartilhamento de mim:


Quero Escrever o Borrão Vermelho de Sangue

Quero escrever o borrão vermelho de sangue
com as gotas e coágulos pingando de dentro para dentro.
Quero escrever amarelo-ouro com raios de translucidez.
Que não me entendam pouco-se-me-dá.
Nada tenho a perder.
Jogo tudo na violência que sempre me povoou,o grito áspero e agudo e prolongado,o grito que eu,por falso respeito humano,não dei.
Mas aqui vai o meu berro me rasgando as profundas entranhas de onde brota o estertor ambicionado.
Quero abarcar o mundo com o terremoto causado pelo grito.
O clímax de minha vida será a morte.
Quero escrever noções sem o uso abusivo da palavra.
Só me resta ficar nua: nada tenho mais a perder.
Clarice Lispector