quinta-feira, 15 de setembro de 2011
Registros de Tempos Bons
A janela aberta do ônibus deixa a paisagem rasgar os olhos e a alma. Uma luz que entra e invade todos os espaços desde a retina até o espírito. Dizer que se gosta de quem se gosta. Sem expectativas, sem necessidades de retornos, mas sabendo que eles vêm, de qualquer jeito. Se saber em seu lugar, em seu caminho. Na direção! Tanto tempo que essa sensação não chegava tão intensamente. Certamente ela se ensaia já faz um tempo. Veio se chegando, fez desvios, mudou a rota. Agora ela está sentada, bem aqui, do meu lado. Ela não fala, ela apenas olha e consente com um olhar cúmplice. Nada de grandioso, espetacular ou operístico a fez pousar aqui. Ela veio sem foguetes, sem bandas, sem anúncios... Ela apenas chegou, no seu tempo, na sua hora, no momento que bem entendeu. Como diz a Elisa Lucinda sobre a poesia, ela veio me habitar apenas porque quis... Tá, admito que poesia, amigos, música no ouvido, sol no parque, alguém pra pensar, descobertas prazerosas no trabalho, são chamarizes... Essas coisas dão lugar- aquela coisa cheia de memória e afeto. Tudo bem que o não lugar e o vácuo são super potentes (podem ser), são espaços de inovação, criação... Mas vamos combinar que um pouco de estabilidade não faz mal a ninguém... Acho que registrar estes instantes como agora, é um pouco de obrigação. Nós e nossos atravessamentos cristãos, platônicos, psicanalíticos e tal, aprendemos a só registrar e dar a ver a tragédia. Eu, pelo menos vivo entrando nesse jogo. Mas eis aqui, um escrito que vem cheinho de luz e vento pelo rosto... Um escrito de aproveitar cada segundo deste instante por si só, mesmo sabendo que ele é fugidio. Sim, é. Porque tudo é. Tudo se esvai, não permanece, não se fixa. Essa é a dinâmica. Ok, tudo bem! Sejamos tudo isso que somos agora. Felizes e inteiros, iluminados e inteiros, atordoados e inteiros, escuros e inteiros... Sejamos ou como diria Cole Porter: “Façamos: vamos amar” ou beijar, ou dançar, ou beber, ou caminhar ou ainda escrevamos um texto em um banco apertado de ônibus com a luz entrando na alma, o sol rasgando tudo e sentados ao lado da sensação de se sentir inteiro e cheio de memórias, afetos, caminhos e lugares
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6 comentários:
Teu texto traz um fôlego espinosista para minha alma freudiana e platônica. "Let's do it, let's fall in love'
Lindão...
Que bom que chegou o momento de estar banhado pela luz!! AMO-TE
Gostei: um pouco de estabilidade, ainda que provisória, não faz mal nenhum. bjim
Ai, Nego! Pode chorar?
Sem razão nenhuma, talvez, sei lá...
Coisas de vó!!!!
Carmen, vem me visitar mais vezes por aqui...Jac, chorar é limpeza...sempre ajuda...Emm tempos de paz ou de guerra...Vovó linda!!!
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