sábado, 9 de maio de 2009

Do silêncio e os benefícios do estar acompanhado de si


Sutilmente eu fui dizendo não. Delicadamente, como mandam meus códigos, eu fui dizendo "psiu".E, tudo ficou quieto, tudo silenciou. Um silêncio não daqueles representados de maneira lugar comum. Não,não era um silêncio de preto e sofrimento.
Um silêncio cheio de falas: as minhas.
Um tempo meu, pra entender meus lugares, um silêncio de taças solitárias de vinho, leituras, escritas, filmes, horas dormidas.
Um silêncio repleto do ruído de estar em mim. Um silêncio feito do ser dono do seu tempo, da sua vida, dos seus passos, do seu nariz. Um silêncio de ir na casa da amiga, cumprir pequenas tarefas profissionais de fim de semana, voltar para a casa e continuar o silêncio que não se interrompeu nas outras atividades.
É que meu silêncio foi do não ao sim. Do sim, às minhas coisas. Do sim às minhas vontades.
Do sim de inventariar os pensamentos secretos, sutis, silenciosos.Um sim de rastrear desejos.
Foi bom. Está bom. Tomar as rédéas é oxigênio necessário. Descobri que o "não" é necessário. Que ele não é antítese do sim. Que ele é complemento, usina para "sims" cheios de vontade, alegria e sorrisos nos lábios regados a saudades de dias sem estar junto.
Uma parada geral é sempre um ato de presunção. Acho que sim, é, em um mundo que se embota de barulhos, sons dispersos, imagens mil, telas iluminadas, páginas saturadas. Dizer não, estar-se só ou em estado de silêncio é, se estar bem de mansinho, bem pianinho, dizendo "Este mundo é meu e eu ordeno seu tempo". Pelo menos este mundo, pelo menos o meu mundo. Outro dia eu estava vendo uma série americana bem famosa:SEX and the City (aos intelectualóides de plantão, um aviso: Ver séries americanas não faz do indivíduo alguém mais burro, ou fútil, ou qualquer uma destas determianções vazias). Na série, a protagonista Carrie, sentada em um café em Manhatan, de óculos escuros e olhando para o movimento das ruas depois de muitas tentativas de estar acompanhada pensa algo como:"Eu aqui , neste café, sozinha, exercitando o meu estar comigo, exercitando ser alguém solteiro na cidade, exercício do ser sozinho sem crises, apenas ser e estar". Essa cena não me saiu da cabeça durante a semana. Acho que ela antecipava, sugestionava, ou alertava. As vezes estar sozinho é tudo que se precisa para poder estar mais tarde, em outro dia, outro tempo, outra hora: acompanhado. Sejam amigos, amores ou eu mesmo.

3 comentários:

Melina disse...

Denso.
Verdadeiro.
Instigante.
Perfeito!
bj

André disse...

Convier com o "não" sadio e marcar números com milho em um bingo é quase a antítese do universo...

Anônimo disse...

Um silêncio repleto do ruído de estar em mim. Isto é perfeito. Mas chega uma hora em que... Igor, faz isso parar.