sábado, 31 de outubro de 2009
SOBRE OS 29 OU DE COMO ME TORNEI UM HOMEM.
Escrever para organizar. Minhas escritas sempre surgem para presentificar. Para tornar palpável, vivo, orgânico. Minha escrita nunca aprisiona, fujo das prisões.Tento ao menos.
Os sentidos e os sentires da minha escrita no mundo se fazem objeto na ponta dos meus dedos. Minha pintura, meu desenho, minha gravura. Minha representação.
Uma narrativa inventada, um retrato, um momento.
São percepções que se alinham. Sentires que se fazem carne nas entranhas das palavras.
Cá estou eu de novo! Talvez para fotografar este instante de paz em meio à agitação da vida. Essa vida que por vezes é mar lançado nas pedras, por vezes água calma que espelha o mundo em rio calmo.
Cheguei aos 29. Aquele das mudanças, aquele dos planetas que se movem , segundo a astrologia. Dizem que aos 29 tudo muda e a gente se faz parir de novo.
Talvez seja. Durante muito tempo estas crenças foram fantasmas que me assombraram. O medo da mudança me ronda, mesmo que eu não a impeça, mesmo que eu já tenha secretamente aprendido a conversar/viver com ela.
Sou um Homem agora. O menino está aqui. Presente, cheio de dúvidas, medos e ansiedades descompassadas. Mas tem um homem com ele. Um homem que constrói a vida a medida que ela se apresenta. Que inventa a vida a partir da suas vontades possíveis.
O que antes era prodígio agora é dever, obrigação. Mas não é pesado. Por enquanto é novo, é acomodar-se.
Afinal, foram 29 anos para se ver. 29 anos para caminhar até aqui e saber que passos se apagam a medida que são feitos, mas as pernas guardam na memória do músculo a força empreendida na caminhada. Aprende-se (um pouquinho) como medir a força, como examinar a distância. Cheguei a um lugar. Se o lugar é aquele espaço conhecido, repleto de memórias, achei um lugar. Mas não esqueci que essa plataforma que estou hoje, desaba amanhã e me joga de novo no desconhecido. Ser homem, adulto, talvez seja isso. Entender que a vida é um fio tênue por onde se trilha e as quedas , parte contínua do andar sobre os abismos.
29 anos para descobrir que beleza é uma invenção mutante e que, portanto, para ser bonito, basta ser criativo e saber se inventar da maneira correta.
Sei que hoje ando “me sentindo”, como se diz por aí, nas invenções e subversões fantásticas que o português nos permite.
“Me sentindo”, vivo. Me sentindo: vivo. Aprendi a ser o homem de mim. Para ser homem de mim, aprendi que amanhã este aprendizado desaparece, porém, aprendi que no desaparecimento eu saberei parir-me em outro.
Para ser grande, sê inteiro, me disse o pessoa. Acho que sou grande. Tenho certeza que estou inteiro, aqui, agora, no instante fugaz.
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