
A escrita sempre. A escrita e seus retornos. A escrita e a busca. A escrita e o exame de si.
Aqui , na noite do lá fora , escrevo. Escrevo para mim palavras que poucos olhos haverão de encontrar. Queria escrever sobre relevâncias: arte, música, filosofia, amor. Mas ando de margens. É que o tempo em que tenho habitado é o da mudança, onde o movimento reserva pouco tempo para a pausa. Pausa como esta que me presenteio agora...
As coisas estão passando e mudando. Algumas por reação dos meus movimentos e vontades, outras por que se movem por si na ciranda do fluxo do vivo.
Pessoas, lugares e sensações sentam-se do meu lado no escuro da sala onde a escrita nasce. Suas vidas,vozes e rostos. Vozes de quem não vejo, porque o tempo me esmaga, presenças que escuto porque habitam os lugares que não têm mais volta. Não se pode fazer uma vida assim.
Estas presenças e ausências se mesclam nas minhas dúvidas diante do todo, dúvidas que aprendi a compor sem medo. Mas ando precisando reverter este jogo.
É que acho que ando precisando me investigar de novo. Por isso, a escrita. Tenho medo do endurecimento. Medo de perder uma conexão com as coisas que não se explicam e onde, acho, residiu sempre o milagre das minhas conquistas nas várias vidas que tive nestes anos em que estou vivo. Não posso, não ouso perder o contato com as delicadezas.
Esse lado mágico e escuro me pariu artista. Este artista que me deu olhos em corpo. Ele é a usina. Por isso a solenidade de reconhecer que minhas pausas para escritas, pausas como essa, mesmo quando não chegam a tocar na universalidade dos grandes temas me harmonizam comigo e com o universo que está aqui, agora.
Para aumentar estas pausas e trazê-las de novo para o cotidiano é que estou em reforma de tudo. Vou parar o que pode ser parado para não perder as delicadezas e os mistérios. Já disse: preciso delas para poder continuar... Não há energia se apago minha usina.
Ando querendo desenhos novos, mas antes preciso rever antigos rabiscos para entender de onde vêm as minhas grafias. As grafias do meu desejo que se andaram empalidecendo na falta da pausas. Falta que se plasmou em silêncio de escritas e em desvios de sonhos.