terça-feira, 14 de abril de 2009

Sempre a Clarice a me trazer pra mim


"Não é que vivo em eterna mutação, com novas adaptações a meu renovado viver e nunca chego ao fim de cada um dos modos de existir. Vivo de esboços não acabados e vacilantes. Mas equilibro-me como posso, entre mim e eu, entre mim e os homens, entre mim e o Deus."
Um sopro de vida

Ela que sempre fala de mim, ela onde sempre me busco, ela que me faz sempre prenhe em descobertas.
Eu tenho em mim coisas não ditas, coisas segredadas e quando me percebo ela já sabia, ela já tinha me dito.
A clarice é escrita de mim. Neste tempo de esperas, em movimento, ela é um porto.
Tenho falado através dela, me encontrado mais uma vez no surrado exemplar de água viva.
Talvez por isso agora que me vem a vontade de escrever eu a use como motivo, partida, tema.
Ando como sempre Clarice, ando Lispector. Ando sopro de vida.
Ando olhando, tentado entender um substrato nas coisas, um sentido novo e lógico, impermanente.
A casa em desalinho, ninho, recebeu amigos de tantos tempos e horas.
Nas conversas me veio também Lucinda. Lucinda e o tempo em que amigos eram isso! Encontros, conversas, certeza de eternidade. Lucindamente um tempo onde ninguém partia, morria, sumia.
Ando leituras e encontros e ecos de mim. Um silêncio delicado, um distanciamento que desvela, revela.
Ando. Andando analiso minhas marcas, meus registros,as estradas que vejo e as que desejo ver. Num tempo de não sei, encontro nas palavras de outros as minhas tentando dar sentido ao vivido. Vida que sopra

domingo, 12 de abril de 2009

Clarice pra começar a semana


"Ele era triste e alto. Jamais falava comigo que não desse a entender que seu maior defeito consistia na sua tendência para a destruição. E por isso, dizia, alisando os cabelos negros como quem alisa o pêlo macio e quente de um gatinho, por isso é que sua vida se resumia num monte de cacos: uns brilhantes, outros baços, uns alegres, outros como um "pedaço de hora perdida", sem significação, uns vermelhos e completos, outros brancos, mas já espedaçados.
Eu, na verdade, não sabia o que retrucar e lamentava não ter um gesto de reserva, como o seu de alisar o cabelo, para sair da confusão. No entanto, para quem leu um pouco e pensou bastante nas noites de insônia, é relativamente fácil dizer qualquer coisa que pareça profunda. Eu lhe respondia que mesmo destruindo ele construía: pelos menos esse monte de cacos para onde olhar e de que falar. Perfeitamente absurdo. Ele, sem dúvida, também o achava, porque não respondia. Ficava muito triste, a olhar para o chão e a alisar seu gatinho morno."
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LISPECTOR, Clarice. A bela e a fera. 2ª ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1979.

terça-feira, 7 de abril de 2009

Ensolarado


A vida é um vai e vem sem fim, mesmo!
Lugar comum em boca vulgar, este tipo de afirmação, se confirma completamente às vezes!!!
Hoje por exemplo entre a sucessão de cinzas e nuvens surge um sol: grande, orgânicamente verdadeiro, banhando tudo. Banhando olhos, sorrisos, bocas e afogando reclamações ranzinzas.
Havia um sol hoje. Um sol que de claro e descontrolado estava saindo pelos poros-caminho contrário.
Havia um sol em mim hoje!!E eu me fiz bom dia!
Eu me dei comercial de margarina. Eu me vi feliz com o trabalho, com o movimento.Eu vi o movimento. E ele me trouxe sol, me fez sol. Ensolarado.Nem mesmo o negror da noite calou meu sol. E agora na noite da casa me sou inteiro um eclipse.

domingo, 5 de abril de 2009

VolVer ou Obrigado Poly


Volver. Fui ver e voltei...
A Poly me fez voltar...
Tanto tempo que não andava aqui...
2008 correu tanto que não sobraram momentos para estas escritasdemim.
Outras muitas: escritas de conclusão com o mestrado, escritas de inícios...
Agora que de novo tô precisando voltar em mim e que já percebo que outro parto surge(e não posso mais fugir) volto...
Volto com olhares novos, como sempre...São velhos os nascimentos de olhos mas novos sempre os olhares que deixo surgir...
Tô olhando pro próximo, olhando pra mim...Tô achando outros sons, tô música de câmara...
Percebi algumas serpentes no caminho mas aprendi a entender como elas aprendem a assustar. Mas sem querer ser uma delas extraio delas o conhecimento que podem trazer.
Coisas, coisas...
Mas eu quero agora um redemoinho de novo...
Quero territórios novos, fontes novas...
Preciso disso agora na usina de mim...
A morte me ronda...Um de mim vai morrer e eu vou mata-lo...
Vejo, sinto, estou grávido de um outro eu...
Que venha...Que surja, que nasça...
Mas pode demorar...Meus partos às vezes levam anos e me angustiam, desacomodam, desassossegam e às vezes, quando percebo: Já me nasci e nem percebi de tão preparado que estava pra esta nova chegada de mim...
Poly, tuas palavras me afetaram, me lembraram de potências que eu tinha esquecido...
Valioso lugar inesperado que fosses...Obrigado!